“Mãe, esta senhora tem olhos azuis. Azuis, mãe! Olhe, mãe, azuuuuis!”
-- e apontava, indicador espetadíssimo acusando-me, o miúdo frente a
mim no autocarro. A mão livre puxava pela manga do casaco da mãe. Não
trajava uniforme de colégio; aqueles calções azuis anunciavam uma
importância antiga, uma ideia de decência porventura pobre. No Inverno
dos anos 80 era invulgar ver rapazinhos de calções nas ruas de Lisboa.
Com
meio sorriso, abrindo muito os olhos, pestanejei para ele devagar, como
uma estrela de cinema mudo, flirtando propositadamente,
envergonhando-o. Nem por isso tirou os olhos de mim.
Não vinha de
um país distante, éramos...