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Cinquentenário de 1968

Cartaz do Maio de 68 - Domínio Público



2018-05-03

 

Hoje se completam 50 anos do histórico dia 3 de maio de 1968, quando alunos da faculdade de Nanterre se uniram a estudantes da Sorbonne e deram início a um movimento que pretendia apenas desafiar a caretice das velhas tradições francesas, mas acabou revolucionando as ruas de Paris e contando com ampla adesão de operários que literalmente pararam a França em setores produtivos básicos. Todo esse movimento ficou conhecido como Maio de 68, um símbolo da liberdade e do puro poder do povo, que eu quis levar para a ficção. Em “Rio-Paris-Rio” (ed. Rocco), escrevi um capítulo em que os personagens Maria e Arthur, dois brasileiros exilados em Paris, vivem intensamente toda essa revolta. A eles se juntam outros exilados de ditaduras mundo afora, como o português José, que tenta escapar do regime fascista de Salazar, o espanhol Pablo, fugido do totalitarismo de Franco, e Marechal, brasileiro que organiza reuniões políticas entre estrangeiros no exílio. Para celebrar o Maio de 68, resolvi então gravar a leitura de um trecho do capítulo 7 de “Rio-Paris-Rio” ambientado justamente no dia 3 de maio de 1968. O cenário: a personagem Maria está na sala de aula, dentro da Sorbonne, enquanto no pátio centenas de estudantes se reúnem em assembleia. Quando o reitor da universidade chama a polícia para expulsá-los, eles seguem para o Boulevard Saint-Michel, onde se dará o grande confronto com a CRS (as forças policiais de segurança), entre barricadas, bombas de gás lacrimogêneo e muita violência. Quis ler esse trecho, eu mesma, para celebrar um dos momentos mais libertários do mundo, paradoxalmente oposto ao momento atual, em que ideias e atos fascistas se disseminam como bactérias, exigindo todo cuidado, toda resistência.

 

 

 



Luciana Hidalgo

É escritora e doutora em literatura comparada, com pós-doutorado em autoficção na Université de la Sorbonne Nouvelle – Paris III, na França. É autora do romance O passeador (Rocco), vencedor da Bolsa Funarte de Criação Literária e finalista dos prêmios Jabuti, Portugal Telecom e São Paulo Literatura em 2012; da biografia Arthur Bispo do Rosario – O senhor do labirinto (Rocco) e do ensaio Literatura da urgência (Annablume), ambos premiados com o Jabuti.




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