Decido que Joaquim me toma por outro – alguém que deseja, de fato, reencontrar. É curioso pensar em suas mãos há pouco inertes, metidas nos bolsos fronteiros da calça. Apalpava, talvez, algum objeto? Um pacote de pastilhas mentoladas? Um telefone, está coçando?
I.
Aqui, Joaquim. Aqui!
Do outro lado!
Acenando.
Mas ele não esboça reação. Apesar de estarmos perfeitamente alinhados um diante do outro, trata-se de uma avenida imensa, terrivelmente movimentada.
Devo ter lido em algum lugar: uma das vias mais convulsivas da América Latina...
Sim, estou seguro disso, estamos um diante do outro, suficientemente alinhados para que me veja, ainda que a relances, intervalado entre os carros, ônibus, caminhões e demais indicativos de progresso humano.
Terá Joaquim se tornado ele próprio indicativo de progresso humano?
Neste caso, não deve fazer questão de me cumprimentar. Sigo acenando, no entanto, e cada vez mais enfático, cuidando apenas de não acertar as pessoas à minha volta. Não me parece correto que elas tenham que pagar por nada disso.
Em seguida, outra hipótese me acorre – a de que Joaquim esteja me enxergando perfeitamente, porém, não me reconheça. Afinal, nos últimos cinco ou seis anos, todos nós trocamos de óculos, perseguimos dentes mais brancos, produzimos cães.
Fizemos, em suma, o possível para que não...