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Um grito coletivo. Um refrão.
Há uma mulher nua nas margens do rio Licungo.
Do lado dos homens.
— Ah?
Há uma mulher na solidão das águas do rio. Parece
que escuta o silêncio dos peixes. Uma mulher jovem.
Bela e reluzente como uma escultura maconde. De
olhos pregados no céu, parece até que aguarda algum
mistério.
— Quem é ela?
Uma mulher negra, tão negra como as esculturas de
pau-preto. Negra pura, tatuada, no ventre, nas coxas,
nos ombros. Nua, assim, completa. Ancas. Cintura.
Umbigo. Ventre. Mamilos. Ombros. Tudo à mostra.
— De onde veio?
No céu da vila a notícia corre como as ondas da
rádio. Nesta cidadela pacata, quase nada acontece e
tudo é...