As horas tenras da manhÃ£

Revista Pessoa

Foto: CasÃ© Lontra Marques. DivulgaÃ§Ã£o

2018-08-24

Um livro pode curar feridas antigas. O poeta Casé Lontra Marques, autor de - O som das coisas se descolando, Enquanto perder for habitar com exatidão e Mares inacabados - revisita algumas de suas delicadas reminiscências a partir de Obra Breve, da ecritora portuguesa Fiama Hasse Pais Brandão.

Feridas adensam a presença do mundo em nós. Pois abrem a pele, primeira fronteira humana. O corpo lesionado (em carne viva, como se diz) precisa lidar com a iminência — ou inevitabilidade — da contaminação. Vulnerabilizado, expõe sua crueza (não só sua repugnância). E os mais sutis estímulos, assim, atingem a atenção, maculando a higiene da vigília, tanto quanto a do sono.

Isso ocorre em planos diversos, dada a multiplicidade constitutiva dos seres que somos: criaturas expostas à linguagem, à materialidade impalpável da linguagem. E tumultuadas, drasticamente; tumultuadas pelo desejo — que nos captura, independente do momento. Depois catapulta: para onde?...

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