Talvez o que nossa sensibilidade consiga captar, de forma inconsciente, seja uma substância que ainda não se mostrou em história, não pode ser abraçada ou contestada, mas está presente e interfere na nossa relação uns com os outros. Como uma membrana em nossa córnea, um peso amarrado no tornozelo, uma coleira no pescoço com uma corda muito longa, mas finita, sentimentos coletivos inapreensíveis por nossa consciência diuturna. Às vezes até somos capazes de ouvi-los ou vê-los, mas não há como apreendê-los e, por isso, nos escorrem pelas mãos.
Falar da necessidade da ficção no Brasil em 2018 é, para começo de conversa, falar da relação entre realidade e ficção, um tema discutido, pelo menos, desde Sócrates.
Não iremos tão longe. Tentarei me aproximar de algumas poucas características da ficção (sobre as quais não há consenso) que me parecem torná-la necessária especialmente hoje, no Brasil.
Nesse texto a palavra “ficção” irá se referir apenas a romance, conto, novela e poesia narrativa escritos por um autor, que podem ser um, três ou cinco autores ou uma criação coletiva, o importante é que tenha autoria conhecida. A isso, autoria conhecida, chamarei de “um...