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Perguntou-se então ao autor de onde ele fala

Imagem: Anatomia humana - Johannes Dryander



2019-03-31

Assim começa a longa frase que escapa da página, das mãos, do significado. Verboso dizer no quarto vendado pede-nos figurar o afigural, ver a calada em toda sua extensão, o rancho dos minutos.

 

Dentro dos olhos. Deve haver dentro dos olhos alguma cancela destrancada. Procure. Uma fresta, uma estrela muito fria, um homem muito frio, os membros muito frios.

Aqui.

É aqui que devem viver as tias mediúnicas que cerravam também os olhos para ver, para escrever.

Não.

Recuar ainda mais de escrever.

O som não tem meios de propagar-se pelos olhos. Chama-se uma fresta, uma janela. Se muito, choverá. 

Deve haver nos olhos um porta-voz para conhecer as palavras. Deve haver no quarto vendado certa luz que ainda não se desfez.

O sopro do escuro sobre minhas mãos que acordam Adão.

Parto delas para participar dos demais sentidos. Curso...

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Ismar Tirelli Neto

É poeta, ficcionista, tradutor, performer bissexto e roteirista cinematográfico, autor dos livros synchronoscopio, Ramerrão, Os Ilhados, Os Postais Catastróficos (editora 7Letras), A Mais ou Menos Completa Ausência (Ó Editorial) e Duas ou três coisas airadas (LUNAParque), este último em parceria com Horácio Costa. Publicou textos em O Globo, Folha de S. Paulo, Suplemento Pernambuco, Revista Select, Blog do IMS, Neue Rundschau (Alemanha), Relâmpago (Portugal), Jacket2 (EUA), entre outros. Atualmente vive em São Paulo e ministra oficinas de escrita criativa.




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