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Para reter a beleza

Foto: Veneza. Por Henrique Ferreira.



2020-05-20

Marca D'água é exatamente isso para mim: um texto sem alvo, sem centro, sem pretensões. Aquela sofisticação que só a mais absoluta simplicidade consegue carregar. Brodsky nunca quis possuir a cidade. Ela nunca foi mercadoria. Ele sempre a perdia. E a buscava, de novo.

 

Quando li pela primeira vez Marca-D'Água quis adiar para sempre conhecer Veneza. Nenhum livro me fez amar (e temer) tanto uma cidade. Nem Lisbon revisited por Pessoa, nem o Rio do Machado, da Clarice, do João, do Rubem, sequer a Dublin de Joyce. Lá pela quarta leitura, imaginava eu dizendo, numa trattoria qualquer, algo assim para o autor deste livro, o russo Joseph Brodsky:

 

vou partir
Para outras terras, para outros mares
Para uma cidade tão bela
Como esta nunca foi nem pode ser
Esta cidade onde a cada passo se aperta
O nó corredio: coração sepultado na tumba de um...

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Sabrina Sedlmayer

É Professora Associada III da Faculdade de Letras da UFMG. As suas pesquisas situam-se no campo da literatura comparada, com ênfase nas literaturas de língua portuguesa e na teoria das culturas de língua portuguesa, atuando, principalmente, na linha de pesquisa Políticas do Contemporâneo.




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