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O eu autêntico e outros eus

Foto; Bernardine Evaristo. Reprodução



2021-01-18

Os personagens parecem querer apenas a si mesmos, mas não sabem quem realmente são. A Identidade como bem de consumo, segundo Bauman, ao invés de  encaminhar as pessoas para um terreno menos contraditório, mais apaziguado, ou para uma liberdade mais plena, faz com que elas mergulhem (e se afoguem?) num mar de ambiguidades. Acredito que aí se concentra a tensão dramática que percorre todo o livro de Bernardine Evaristo. Os personagens são individualistas, mas querem viver em comunidades identitárias idealizadas; contestam a ambição capitalista, mas desejam estar sempre a frente de si mesmos; criticam o mundo no qual circulam, mas são ávidos pelo sucesso e pelo reconhecimento social; são obcecados pelo “eu autêntico”, mas transformam a vida numa performance (ou várias).

 

Se na sociedade pré-capitalista a identidade (social e pessoal) é determinada no nascimento, uma vez que ela decorre da posição ocupada no interior de uma estrutura social rígida e fixa, na sociedade capitalista pós-moderna, ou na modernidade líquida, ou como se queira chamar, dada sua estrutura móvel e mais flexível, a identidade se torna, ela mesma, um problema. Assim, processos de transformação social são convertidos em palco de afirmação de identidade e, junto a isso, a identidade pessoal, especificamente, torna-se a performance por excelência de rituais urbanos e palcos íntimos. Todos querem afirmar  o “seu eu” e decifrar “o outro”,...

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Ana Cristina Braga Martes

É socióloga e foi professora da Fundação Getulio Vargas até 2019, de onde saiu para se dedicar integralmente à literatura. Nascida em Varginha (MG), passou sua infância e juventude de São Carlos (SP), formou-se em Ciências Sociais pela UNESP/Araraquara, fez mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP) com bolsa sanduíche no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Foi Pesquisadora Visitante na Universidade de Boston (BU) e fez pós-doutorado na Universidade de Londres (King’s College). Publicou e organizou diversos artigos e livros acadêmicos. A origem da água é seu primeiro livro de ficção. 




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