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Nau

500 mil mortes

Foto: Desembarque de Pedro Álvares Cabral - Porto Seguro, 1500. Oscar Pereira da Silva



2021-06-19

E aos poucos, conforme o verme permite que o vírus nos leve amigos, parentes, deixe sequelas entre os nossos, assumimos um ar pálido. E ainda, aos poucos, conforme o verme nos chama de idiotas, conforme seus partidários destroem nossa terra, nossa mata e nossa gente, afirmamos acreditar no amor, enquanto nosso coração transborda de ódio. 
Enlouquecemos juntos e separados.

 

Não há um porto seguro para esta NAU. Não há. E mesmo quando o mar, num futuro já calmo, avançar suas vagas tranquilas sobre a areia de praias desertas, ainda assim ouviremos o som horrendo do passado nas rajadas de vento que por desventura vibrarem ao nosso redor.

Não, nenhuma travessia jamais será segura. E nós, nós nunca seremos os mesmos de antes. Antes do vírus e do verme, no Brasil. Antes de nos fecharmos em casa, ao abrigo de insanidades. De todo tipo de insanidade.

Entretanto, enlouquecemos juntos e separados, os de fora e os de dentro: os de fora...

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Paula Fábrio

Nasceu em São Paulo, onde mora. É doutora em Literatura pela USP. Autora de Desnorteio (de 2012), romance vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, e Um dia toparei comigo (de 2015), livro finalista do mesmo prêmio. No corredor dos cobogós (Edições SM) é sua primeira obra juvenil.

 

 




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