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Obrigada. Eu vim aqui me despedir. Talvez eu tenha aprendido, na escola ou com minha mãe, que em despedidas a gente diz tchau, até logo, adeus, mas me parece mais importante dizer obrigada.

A Revista Pessoa é o espaço onde eu pude publicar textos mensais por cerca de cinco anos. Não é pouca coisa. Uma matemática simples dá conta disso, mas não completamente. É impossível que um número resultante consiga expressar a gostosura que foi pensar os temas para cada coluna que eu devia enviar à querida editora. Todo mês, me esforçando para cumprir sem atrasos relevantes, eu devia selecionar do mundo um assunto ligado às línguas portuguesas para tratar aqui, esperando que fosse leve, talvez, mas que fosse também firme. Não sei se consegui. Alguns textos circularam mais, outros, menos, como é esperado. Alguns temas geraram mais engajamento. Certas histórias me fizeram reviver situações de angústia, prazer ou afeto. Descobri uma espécie de fórmula para destilar, todo mês, esse sumo que gera crônicas (ou fossem lá o que fossem essas linhas desajeitadas em português brasileiro, às vezes em mineirês mesmo).

A Mirna Queiroz me fez um convite bem específico, em 2017. Já falei dele aqui, em algum texto comemorativo. A ideia era escrever sobre nossa língua – nossas línguas -, sem parecer coluna de dicas e prescrições gramaticais. Ufa! O título do espaço já existia: Ortografia também é gente, verso de Fernando Pessoa. Talvez eu preferisse um poemeto de Manoel de Barros, quem sabe? Gosto tanto daquele jeito caramujo de ele desdizer as coisas do mundo. Mas topei assombrar Pessoa, entregando todo mês alguns parágrafos de uma crônica arregalada sobre uma língua que flui feito um oceano, separando e juntando, viva feito um bicho, inspirando e expirando.

Eu vim, cinco anos depois, me despedir. O ciclo mudou. Tanto o meu quanto o da Revista Pessoa. A gente, quando presta atenção, vai sentindo o vento mudar de direção. Falei para a Mirna: vou partir, você deixa? E me deixa levar meus textos comigo? E ela entendeu direitinho, me deu um beijo na testa e falou para eu voar. A Mirna sempre soube das coisas. Logo mais, quem sabe, estes parágrafos todos vão pintar por aí, com fôlego renovado. Obrigada, leitoras e leitores, pelos cliques e pelas mensagens, pela leitura silenciosa, pela compartilhadinha esperta. Eu continuo por aí. E mistério sempre há de rolar. 



Ana Elisa Ribeiro

É mineira de Belo Horizonte, onde trabalha e reside. É professora e pesquisadora do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, onde atua na área de Linguagem e Tecnologia, em três níveis de ensino. Publicou mais de trinta livros para crianças, adolescentes e adultos, sendo os mais recentes os poemários Álbum (Relicário, 2018) e Dicionário de Imprecisões (Impressões de Minas, 2019). É colunista do Digestivo Cultural e da Revista Pessoa. Fotografada por Sérgio Karam.




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