Na última postagem aqui na Revista Pessoa eu lembrava que há cinco anos eu era um dos alunos da matéria “Oficina de tradução II”, ministrada pelo professor Maurício Mendonça Cardozo como parte do programa de pós-graduação em estudos da tradução da Universidade Federal do Paraná.
Como disse, um dos exercícios daquela oficina foi a tradução de um poema de E. E. Cummings (Cambridge, 1894 – Nova Hampshire, 1962), com o detalhe de que essa tradução deveria fazer com que o texto final em portugês parecesse ter sido escrito por algum poeta brasileiro.
Repito que o que denominei como um “desafio de pastiche” não me parece apenas divertido como também uma ótima maneira para permitir a “elaboração de uma voz e descobrir os labirintos de uma espécie de metempsicose exigida pela tradução”.
Depois de apresentar aqui na Revista Pessoa uma tradução à la Manoel de Barros, hoje apresento o resultado de uma outra tradução daquele mesmo poema, dessa vez procurando emular a voz de Marcos Siscar (Borborema, 1964).
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Oficina de tradução II - 15/05/2017
Eu gosto do teu corpo
Junto de mim algo novo
Tecido muscular melhor córtex ainda mais
Eu gosto do teu corpo gosto do que ele faz
E como gosto de sentir os troqueus das vértebras
Do teu corpo os ossos espasmo
Firme e suave e eu ainda
Hei de me precipitar no infinito
Beijo eu gosto de cada parte
Beijar-te eu gosto devagar acariciar
Em pequenos choques a penugem tua
pelagem eletrizante e o que da carne cindida
Vêm olhos enormes de miolo de pão
E certamente a emoção assim
Você tão nova sob eu
Gosto do teu corpo.
(tradução por Natan Schäfer)
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i like my body when it is with your
body. It is so quite new a thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones,and the trembling
-firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like,slowly stroking the,shocking fuzz
of your electric fur,and what-is-it comes
over parting flesh….And eyes big love-crumbs,
and possibly i like the thrill
of under me you so quite new
(E. E. Cummings)