Onde está aquele com disponibilidade para ouvir ou ler uma confissão que não chega, ou se vem, se apresenta através de um discurso que está mais para enigma, mais para incerto, que é, na verdade, um atravessamento, um engodo sobre as faltas. Um discurso onde são muitas as perguntas e nenhuma resposta clara. As ideias colocadas estão no vão de imediato a se deslocarem. Fala perdida, profusão, impulso.
O título do mais recente livro de Danilo Bueno, “Uma confissão na boca da noite” (Editora Córrego, 2014), é quase um lugar comum, um clichê, uma figura gasta e poeticamente óbvia, mas, claro, trata-se de um engano, uma armadilha, ao passo que se abre o livro. Além do mais, recorre a uma ideia substancial da experiência poética, ideia contínua ainda, como se o poema tivesse esse fim último de revelação, auto-revelação da experiência ou dos sentimentos mais imediatos e claros do sujeito. Mas, claro, trata-se de um engano.
Confissão nos remete a confessio, termo como era designado o local,...